Psicologia UFSC e IPA – 9º voo de inverno do PROANTAR

31/08/2019 16:11

A Marinha do Brasil Coordena o Programa Antártico Brasileiro em ações horizontais com o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e o Ministério da Ciência Tecnologia, Inovação e Comunicação (MCTIC). Para alcançar o continente gelado são deslocados dois navios e aeronaves Hércules C-130 da FAB. O trabalho de pesquisa desenvolvido desde 2014 em psicologia na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) é pioneiro no Brasil e no mundo e foca especialmente nas pessoas que tornam a estadia humana na Antártica possível para a realização de inúmeras pesquisas de relevância ímpar, atualmente em parceria com o Insituto de Psicologia da Aeronáutica (IPA).

Fotos: Comandantes Pedra e França, Tenente Bianca Rovella, doutoranda Paola Barros Delben e prof. Dr. Roberto Moraes Cruz.

Nos meses de inverno o mar ao redor da estação congela, impedindo a aproximação de embarcações. Logo, para levar víveres aos militares que permanecem 1 ano na Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF) durante os meses de maior isolamento (abril a outubro) são realizados os voos de inverno. Requerindo máxima expertise, a tripulação da FAB, composta por 4 pilotos, navegador, comunicação, taifeiro e loodmasters (mestres de carga), sai do Brasil rumo à Punta Arenas (uma das cidades mais próximas da península austral) carregando convidados que irão disseminar as informações obtidas em suas experiências e também carga para abastecimento da EACF.

 

Arte gráfica: Paola Barros Delben

A carga é preparada por profissionais de ambas as Forças Armadas, ainda no Rio de Janeiro, levando de mantimentos a itens chamados de “afeto”, cartas, desenhos e presentes de entes queridos dos expedicionários em missão anual, oferecendo não apenas maior conforto, como recursos que promovem a saúde e a segurança de homens e mulheres que trabalham em prol do Brasil. Um dos militares mencionou com emoção a satisfação que é levar a carga para seus colegas e a alegria daqueles que recebem, por exemplo, ovos. Dos 300 lançados de paraquedas apenas alguns quebram. É importante ressaltar que, em virtude dos incêndios na Amazônia, o governo convocou as aeronaves para o combate a incêndio, uma das atividades do 1º/1º esquadrão, exigindo uma reconfiguração da aeronave para ajustar aos tanques de água.

O voo com os convidados permite que tenham a noção ampla das atividades das forças militares e das pesquisas relacionadas, que tanto dependem de recursos financeiros para sua continuidade. Os convidados têm o privilégio de conhecer de perto todas as ações, mas também a responsabilidade de passar adiante sua experiência, fazendo com que mais e mais pessoas tomem ciência do que e de como é feito o trabalho na Antártica. O pouso com os passageiros é na pista de neve com pouco menos de 1.300 metros e geralmente com ventos fortes.

Em 2013 apresentei uma proposta ao então secretário da CIRM, almirante Silva Rodrigues, para uma pesquisa que oferecesse atenção à saúde e segurança dos militares. Não imaginei que 6 anos depois o projeto cresceria dessa forma, comportando hoje um grupo com mais de 20 integrantes, de inúmeras áreas, como medicina, direito, engenharias, e é claro, psicologia. Produziu relatórios de PIBIC, cartilhas, apresentações em eventos nacionais e internacionais, artigos científicos publicados em grandes meios e em informes especializados na produção polar, um capítulo de livro, uma dissertação de mestrado, parcerias com países com o Portugal e Polônia, foi aprovado em editais do CNPq, sob a coordenação do prof. Roberto Moraes Cruz, também orientador de doutorado em curso e líder do laboratório fator humano, e recentemente a cooperação entre Instituto de Psicologia da Aeronáutica (IPA), dirigido pelo coronel Pedra e representado na missão pela tenente psicóloga Bianca Rovella, alguém de competência admirável, graças a mediação do Ten. Marcel Quintela. Além disso, o projeto atendeu a demandas específicas da Marinha do Brasil, trabalhando em co-autoria com o atual secretário, o contra Almirante Sergio Gago Guida, a quem devemos respeito e gratidão por sua administração. Para o final do ano está previsto o lançamento da obra “Fator Humano em Ambientes Polares”, com inúmeros convidados, a exemplo do prof. Paulo Munhoz, diretor da Esantar Rio Grande e o prefácio escrito pelo prof. Jefferson Simões, referência em climatologia mundial.

A prevenção é a melhor forma de evitar danos e prejuízos, além de preservar o principal recurso de qualquer ação: o humano. Partimos do pressuposto de que não é uma questão de “SE”, mas de “QUANDO” novos acidentes e adoecimentos graves poderão ocorrer, como o incêndio que destruiu a EACF em 2012, causando prejuízos de mais de 350 milhões aos cofres publicos e duas mortes, de valor incomensurável. Essa pesquisa tem repercussões sociais, científicas e econômicas, no que tange a um modelo inédito desenvolvido para o controle de riscos no contexto, e tantas outras pesquisas na Antártica geralmente são executadas por paixão dos pesquisadores, que não raramente devem tirar do bolso para cobrir os gastos relacionados. Para a continuidade do projeto buscamos inúmeras formas de financimento e trabalhos paralelos, sem esquecer jamais de mencionar a colaboração dos participantes, que ano após ano fazem com que a admiração e o respeito por seus trabalhos militares de apoio à ciência e ao meio ambiente só aumente. São pessoas que ficam longe de casa por meses, que falam com seus filhos e companheiros por meios virtuais, trabalham até altas horas sob intempéries, levantam cedo, geralmente antes do Sol nascer, e persistem até cumprir a missão, mesmo que não tenham à sua disposição todos os recursos também, assim como os pesquisadores.

Citando o coordenador do voo, cmdt. Kristoschek e o comandante da tripulação do 1º/1º esquadrão, major Nicolazzi, nossa gratidão por mais essa operação bem sucedida, graças aos esforços individuais e coletivos de brasileiros fantásticos e pela oportunidade e receptividade para levar a psicologia até o último continente do planeta, realizando entrevistas, observações e aplicando testes.

 

Comissão de coordenação do vôo e convidados, tripulação da FAB, convidados e psicólogos da pesquisa, psicólogas e a capitã Joyce, única mulher a pilotar um avião Hércules na Antártica em aeroporto de Pelotas.

Por Paola Barros Delben.